sexta-feira, 14 de junho de 2013

Quem escreveu os Evangelhos?



Conhecemos os nomes dos quatro evangelistas pelo testemunho da Tradição cristã, que desde o princípio e de forma universal atribuiu estes quatro livros, respectivamente a São Mateus, são Marcos, São Lucas e São João. Além do testemunho da Tradição, a análise crítica dos elementos literários e das referências históricas de cada Evangelho vem 
corroborar o testemunho unânime, firme e concreto da Tradição.

Os escritos cristãos mais antigos que citam os Evangelhos remontam a fins do século I. Assim, são Clemente Romano (entre os anos 91 e 101) e Santo Inácio de Antioquia (morto pelo ano 107) falam destes quatro livros, mas sem se referirem a quem os escreveu. É Papias, Bispo de Hierápolis, na Ásia Menor, quem pelo ano 130 cita os nomes de Mateus e Marcos como autores dos dois primeiros Evangelhos, segundo nos transmite Eusébio de Cesaréia em meados do século IV (História Eclesiástica, III, 39). Em fins do século II (entre os anos 178 e 188) Santo Irineu atesta a autenticidade dos quatro Evangelhos no eu livro Adversus haereses.

Pelo mesmo tempo temos as afirmações do chamado Canon de Muratori, um escrito que procede de Roma. Clemente Alexandrino, que escreve de Alexandria do Egito, e Tertuliano, que representa a Tradição das Igrejas no norte da África (Cartago), mencionam, em princípios do século III, os quatro evangelistas como autores reconhecidos dos respectivos Evangelhos.

A partir do século IV, pela grande propagação da Igreja, os testemunhos dos escritores eclesiásticos são tão numerosos e unânimes que seria prolixo mencioná-los.

Estes dados da Tradição são corroborados pelos que fornecem os próprios Evangelhos no seu texto. No Evangelho de São João diz-se que foi “o discípulo amado” do Senhor quem escreveu o livro (Jo 21,20-24). Mas esse discípulo não pode ser outro senão o Apóstolo São João, como se depreende do conjunto dos Evangelhos. Relativamente aos Sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas), podemos deduzir do seu próprio texto alguns argumentos indiretos, já que em nenhum momento nos dizem expressamente quem foram os autores humanos. Assim observamos que o primeiro Evangelho tem um tom mais “judaico” que os outros; que o segundo aponta para um ambiente romano e trata de modo singular a figura de São Pedro; e que o terceiro tem o mesmo estilo dos Atos dos Apóstolos e é como a primeira parte de uma obra única em dois volumes.

Todos esses dados, assinalados sumariamente, coincidem e vem reforçar o argumento aludido do testemunho da Tradição cristã. Esta atribui o primeiro Evangelho a São Mateus, que o escreveu para os cristãos palestinos de origem judaica, e na língua destes; o segundo a São Marcos, que o escreveu em Roma e foi discípulo de São Pedro; e o terceiro ao médico de Antioquia e discípulo de São Paulo, São Lucas, que escreveu também o livro dos Atos dos Apóstolos.

Nos primeiros séculos da Igreja era de suma importância assinalar com clareza e firmeza quem tinha escrito os Evangelhos, porque já iam aparecendo alguns livros apócrifos que os hereges empregavam para difundir seus erros. Face à heresia, os apologistas cristãos opunham a verdadeira tradição apostólica e deixavam bem assente que os Evangelhos, que oficialmente se usavam na Igreja, procediam dos próprios Apóstolos – São Mateus e São João - , ou dos seus discípulos diretos, chamados “varões apostólicos” – São Marcos e São Lucas.

Assim, pois a origem apostólica e a autenticidade dos quatro Evangelhos – isto é, que os seus autores são precisamente aqueles a quem se atribuem – mantiveram-se desde os primeiros séculos da Igreja sempre e em todas as partes. Santo Agostinho na sua obra “Contra Fausto” (28,2) expressava assim o argumento principal, a propósito do primeiro Evangelho: “Deveis crer que este livro é de Mateus porque a Igreja conservou este livro desde o tempo em que viveu Mateus, através de uma série ininterrupta de gerações, com uma sucessão sem falha, que chega até aos nossos dias”.

(cfr. Biblia Sagrada anotada pela Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra, trad. Portuguesa, Ed. Teológica Braga, 1994, pg. 57-59)

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