Conhecemos
os nomes dos quatro evangelistas pelo testemunho da Tradição cristã, que desde
o princípio e de forma universal atribuiu estes quatro livros, respectivamente
a São Mateus, são Marcos, São Lucas e São João. Além do testemunho da Tradição,
a análise crítica dos elementos literários e das referências históricas de cada
Evangelho vem
corroborar o testemunho unânime, firme e concreto da Tradição.
Os escritos
cristãos mais antigos que citam os Evangelhos remontam a fins do século I. Assim, são Clemente Romano (entre os anos 91 e 101) e Santo Inácio de Antioquia
(morto pelo ano 107) falam destes quatro livros, mas sem se referirem a quem os
escreveu. É Papias, Bispo de Hierápolis, na Ásia Menor, quem pelo ano 130 cita
os nomes de Mateus e Marcos como autores dos dois primeiros Evangelhos, segundo
nos transmite Eusébio de Cesaréia em meados do século IV (História Eclesiástica, III, 39). Em fins do século II (entre os
anos 178 e 188) Santo Irineu atesta a autenticidade dos quatro Evangelhos no eu
livro Adversus haereses.
Pelo mesmo
tempo temos as afirmações do chamado Canon
de Muratori, um escrito que procede de Roma. Clemente Alexandrino, que
escreve de Alexandria do Egito, e Tertuliano, que representa a Tradição das
Igrejas no norte da África (Cartago), mencionam, em princípios do século III,
os quatro evangelistas como autores reconhecidos dos respectivos Evangelhos.
A partir do
século IV, pela grande propagação da Igreja, os testemunhos dos escritores
eclesiásticos são tão numerosos e unânimes que seria prolixo mencioná-los.
Estes dados
da Tradição são corroborados pelos que fornecem os próprios Evangelhos no seu
texto. No Evangelho de São João diz-se que foi “o discípulo amado” do Senhor
quem escreveu o livro (Jo 21,20-24). Mas esse discípulo não pode ser outro
senão o Apóstolo São João, como se depreende do conjunto dos Evangelhos.
Relativamente aos Sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas), podemos deduzir do seu
próprio texto alguns argumentos indiretos, já que em nenhum momento nos dizem
expressamente quem foram os autores humanos. Assim observamos que o primeiro
Evangelho tem um tom mais “judaico” que os outros; que o segundo aponta para um
ambiente romano e trata de modo singular a figura de São Pedro; e que o
terceiro tem o mesmo estilo dos Atos dos Apóstolos e é como a primeira parte de
uma obra única em dois volumes.
Todos esses
dados, assinalados sumariamente, coincidem e vem reforçar o argumento aludido
do testemunho da Tradição cristã. Esta atribui o primeiro Evangelho a São
Mateus, que o escreveu para os cristãos palestinos de origem judaica, e na
língua destes; o segundo a São Marcos, que o escreveu em Roma e foi discípulo
de São Pedro; e o terceiro ao médico de Antioquia e discípulo de São Paulo, São
Lucas, que escreveu também o livro dos Atos dos Apóstolos.
Nos
primeiros séculos da Igreja era de suma importância assinalar com clareza e
firmeza quem tinha escrito os Evangelhos, porque já iam aparecendo alguns
livros apócrifos que os hereges empregavam para difundir seus erros. Face à
heresia, os apologistas cristãos opunham a verdadeira tradição apostólica e
deixavam bem assente que os Evangelhos, que oficialmente se usavam na Igreja,
procediam dos próprios Apóstolos – São Mateus e São João - , ou dos seus
discípulos diretos, chamados “varões apostólicos” – São Marcos e São Lucas.
Assim, pois
a origem apostólica e a autenticidade dos quatro Evangelhos – isto é, que os
seus autores são precisamente aqueles a quem se atribuem – mantiveram-se desde
os primeiros séculos da Igreja sempre e em todas as partes. Santo Agostinho na
sua obra “Contra Fausto” (28,2) expressava assim o argumento principal, a
propósito do primeiro Evangelho: “Deveis crer que este livro é de Mateus porque
a Igreja conservou este livro desde o tempo em que viveu Mateus, através de uma
série ininterrupta de gerações, com uma sucessão sem falha, que chega até aos
nossos dias”.
(cfr. Biblia Sagrada anotada pela Faculdade de
Teologia da Universidade de Navarra, trad. Portuguesa, Ed. Teológica Braga,
1994, pg. 57-59)
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