sábado, 29 de junho de 2013

Exôdo



Os hebreus, estabelecidos no delta do Nilo, depois da morte de José, tiveram que suportar o jugo dos egípcios. Em toda a Bíblia o Egito tornar-se-á o símbolo do adversário-tipo do povo eleito, o poder terreno que procura contrariar os planos divinos.
Deus chama Moisés para uma grandiosa missão de libertar do povo de Deus da servidão do Egito (assunto que constituiu este livro da bíblia), e revela-se a ele primeiro na sarça ardente. Moisés torna-se o chefe do povo oprimido e combate sob a guia divina contra os poderes do mundo.

A passagem do anjo que extermina os filhos dos egípcios testemunha que o povo eleito, libertado, terá que viver, daí em diante, no temor de Deus e reconhecido ao seu grande Benfeitor. A primeira festa da Páscoa foi cruenta: foi uma figura da grande e solene Páscoa, durante a qual, pela imolação de Cristo, o Cordeiro de Deus, toda a humanidade, espiritualmente falando, foi libertada do jugo do pecado e do demônio. Depois de ter libertado o seu povo, Deus o conduziu através das águas e através do deserto.

No monte Sinai, ele quis intervir solenemente e proclamar a Aliança com seu povo: “Se obedecerdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis, entre todos os povos, o meu povo todo particular...sereis uma nação consagrada” (Ex 19, 5-6).

O Decálogo será a carta deste contrato, o Direito dado por Deus ao seu povo libertado do Egito. O Decálogo é seguido de um texto legislativo, fragmento antiquíssimo (cap. 20 a 23), primeiro esboço de uma legislação social e religiosa completada mais tarde, e de leis rituais (cap. 25 a 30) redigidas posteriormente.

Um sacrifício cruento (cap. 14) formou a solene conclusão dessa aliança. Entretanto, o pacto, mal concluído, foi violado.

O povo cede à antiga tentação de materializar o seu Deus para torná-lo visível, construindo  um ídolo, como símbolo de sua força e de sua fecundidade. Este modo de manifestar ao ídolo o seu culto parece-lhe mais fácil do que adorar em espírito um Deus invisível. Deus corrige o seu povo, mas mostra-se magnânimo. A Aliança é renovada: a fidelidade dos hebreus, tanto às prescrições cultuais como aos mandamentos do decálogo deverá servir, para o futuro, de testemunho de seu reconhecimento para com os benefícios divinos.

O sinal visível do pacto entre Deus e o seu povo serão as tábuas da Lei, guardadas na arca da Aliança. Esta arca tem um valor simbólico do trono de Deus: ela testemunha que Deus habita no meio do seu povo, como penhor da fidelidade de suas promessas.

(Fonte: Introdução à Bíblia Sagrada – Ed. Ave Maria)

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Introdução aos 5 Primeiros Livros da Bíblia



Quem conhece o Novo Testamento tem necessidade de estudar o Antigo. Não entenderíamos bem os Evangelhos, São Paulo e os demais escritos cristãos, se não conhecêssemos Abraão, Jacó, Moisés, Davi, Isaías....

O Antigo Testamento consta de 46 Livros. Costumam ser divididos em Históricos, Sapienciais e Proféticos. Os 5 primeiros livros da Bíblia constituem a Lei ou Torah de Moisés, também chamada de Pentateuco (em grego, pente = cinco; teuchos = rolo ou livro).

Os nomes das cinco partes do Pentateuco são gregos e devem-se aos judeus que fizeram a tradução da Bíblia do hebraico para o grego, conhecida como Versão dos LXX (Septuaginta), ou tradução alexandrina, entre os anos 250 a.C e 100 a.C.  Gênesis quer dizer origem, porque este livro começa falando das origens do mundo e do homem. Êxodo significa saída, porque o livro trata da saída dos judeus prisioneiros do Egito. Levítico é o livro dos levitas ou sacerdotes, pois apresenta leis para o culto. Números é o livro que começa com a história de um recenseamento feito por Moisés no deserto. Deuteronômio é o livro que contem a repetição da Lei (déuteron = segundo; nomos = Lei).

O Gênesis compreende duas partes: Gn 1-11 e 12-50. A primeira é chamada “pré-história bíblica”, porque apresenta acontecimentos anteriores à história bíblica; esta começa no capítulo 12 , com Abraão (sec. XIX a.C. ) e vem a ser o fundo de cena que explica por que Deus quis chamar Abraão e fazer-lhe promessas. O Criador fez o mundo e o homem muito bons, mas o pecado estragou a obra de Deus (como se vê no pecado de Caim, no dilúvio, na Torre de Babel). Por isto Deus separa um homem e a sua descendência para serem depositários da esperança de um Messias Salvador. A segunda parte do Gênesis (12-50) apresenta os patriarcas Abraão, Isaac e Jacó, mediante os quais Deus vai realizando a preparação do Messias.

O Êxodo descreve a saída do Egito mediante as 10 pragas e a celebração da Páscoa; a caminhada até o Monte Sinai; a aliança e a legislação do Senai.

O Levítico apresenta coleções de leis relativas ao culto e à santidade do povo.

O Livro dos Números contém outras leis mescladas com a narrativa da caminhada às margens do Jordão.

O Deuteronômio consta de cinco sermões de Moisés que recapitulam a Lei, e da narração do fim da vida de Moisés.

Esses dados permitem intuir a importância histórica, religiosa e moral do Pentateuco.

(Fonte: Escola “Mater Ecclesiae”. Curso Bíblico.) 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Gênesis



Sua interpretação

Os onze primeiros capítulos do Gênesis narram a criação do mundo e do homem, o pecado original e a história das origens da humanidade: os descendentes de Adão e Eva, o dilúvio universal, etc. Num documento de 1909, a Igreja afirma o sentido literal-histórico de 3 fatos essenciais:
- a criação de todas as coisas por Deus no princípio do tempo: do nada, Deus cria;
- a peculiar criação do homem (e da mulher): Deus intervém diretamente na criação do homem, e lhe confere uma alma espiritual;
- a unidade do gênero humano: todos os homens provêm de um único casal.

Esses 3 fatos não podem ser interpretados simplesmente de forma simbólica ou alegórica.

A Criação do Homem

A Sagrada Escritura sublinha uma intervenção direta de Deus na origem do homem, criado por Ele à sua imagem e semelhança (Gen 1, 26-27).

O texto do Gênesis narra o episódio em que Deus forma o homem a partir do barro da terra e lhe inspira um sopro ou hálito de vida (Gen 1, 27); isto é, Deus cuidou da formação do corpo e infundiu-lhe uma alma.

Os intérpretes não vêem inconveniente em afirmar que o “barro da terra” poderia significar um outro tipo de matéria, como por exemplo o corpo de um ser vivo pré-existente, que dispusesse das qualidades necessárias para receber uma alma humana.
Em resumo, a interpretação católica afirma que: 1) com relação à alma, deve-se crer que é imediatamente criada por Deus; 2) quanto à origem do corpo do homem, pode provir de espécies anteriores; 3) houve um primeiro casal, do qual todos descendemos e do qual herdamos o “pecado original”

Este último ponto gerou uma controvérsia sobre monogenismo/poligenismo. O poligenismo defende a existência de muitos casais na origem da humanidade atual; o monogenismo defende que todos os homens descendem de um único casal. Do ponto de vista científico, a controvérsia está superada, devido aos avanços da genética, que confirmam a origem monogenista da humanidade.

Conclusão

A evolução das espécies é plausível do ponto de vista lógico e científico. Mas como ela se deu permanece uma questão aberta, que continua sendo investigada pela ciência.

Do ponto de vista teológico, é bem plausível a hipótese de uma evolução. Deus poderia ter se servido de umas espécies já existentes e de outros fatores (físicos, genéticos, etc.) para fazer com que surgissem novos seres vivos. Deus costuma agir suavemente, como a brisa, sem grandes estrondos e intervenções espalhafatosas, e servindo-se de fatores “naturais” para obter o efeito desejado. A própria idéia de evolucionismo supõe um “plano diretor” e Alguém que o tenha elaborado.

O que não se pode aceitar é o evolucionismo impregnado de idéias materialistas, que partem do preconceito de que Deus não existe, de que o mundo é auto-suficiente e de que o homem não passa de um animal desenvolvido sem alma espiritual.

A fé nos diz que Deus – cuja existência pode ser demonstrada pela razão – criou o mundo a partir do nada e fez o homem à sua imagem e semelhança, infundindo-lhe uma alma racional que o difere de todos os animais.

O universo, a vida e o homem são maravilhas da criação, que permitem entrever a verdadeira fonte de onde toda essa energia procede, essa Luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo (Jo 1, 9). 

"Criacionismo" - Criação e Evolução



O “Criacionismo” é uma corrente de pensamento teológica baseada em uma interpretação exclusivamente literal da Bíblia. Afirma que não poderia ter havido uma “evolução” das espécies, pois isto negaria a verdade contida nas Sagradas Escrituras.

Nesse sentido, a interpretação da Igreja Católica não é “criacionista”. A Igreja não vê incompatibilidade entre a Criação do mundo e do homem por Deus e, ao mesmo tempo, a hipótese científica do evolucionismo.

A premissa básica é a seguinte: Deus é o autor da natureza e, ao mesmo tempo, da Revelação bíblica, e não pode contradizer-se. Portanto, qualquer aparente conflito entre a Ciência e a Bíblia se deve ao erro de afirmar como científico algo que não o é, ou a um erro de interpretação da Sagrada Escritura.

A Bíblia não se destina a ensinar a origem das espécies, e sim as verdades necessárias para a felicidade e salvação do homem (por que Deus nos criou, porque existe o mal, o que é necessário para ser feliz, a vida eterna, etc.).

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Quem escreveu os Evangelhos?



Conhecemos os nomes dos quatro evangelistas pelo testemunho da Tradição cristã, que desde o princípio e de forma universal atribuiu estes quatro livros, respectivamente a São Mateus, são Marcos, São Lucas e São João. Além do testemunho da Tradição, a análise crítica dos elementos literários e das referências históricas de cada Evangelho vem 
corroborar o testemunho unânime, firme e concreto da Tradição.

Os escritos cristãos mais antigos que citam os Evangelhos remontam a fins do século I. Assim, são Clemente Romano (entre os anos 91 e 101) e Santo Inácio de Antioquia (morto pelo ano 107) falam destes quatro livros, mas sem se referirem a quem os escreveu. É Papias, Bispo de Hierápolis, na Ásia Menor, quem pelo ano 130 cita os nomes de Mateus e Marcos como autores dos dois primeiros Evangelhos, segundo nos transmite Eusébio de Cesaréia em meados do século IV (História Eclesiástica, III, 39). Em fins do século II (entre os anos 178 e 188) Santo Irineu atesta a autenticidade dos quatro Evangelhos no eu livro Adversus haereses.

Pelo mesmo tempo temos as afirmações do chamado Canon de Muratori, um escrito que procede de Roma. Clemente Alexandrino, que escreve de Alexandria do Egito, e Tertuliano, que representa a Tradição das Igrejas no norte da África (Cartago), mencionam, em princípios do século III, os quatro evangelistas como autores reconhecidos dos respectivos Evangelhos.

A partir do século IV, pela grande propagação da Igreja, os testemunhos dos escritores eclesiásticos são tão numerosos e unânimes que seria prolixo mencioná-los.

Estes dados da Tradição são corroborados pelos que fornecem os próprios Evangelhos no seu texto. No Evangelho de São João diz-se que foi “o discípulo amado” do Senhor quem escreveu o livro (Jo 21,20-24). Mas esse discípulo não pode ser outro senão o Apóstolo São João, como se depreende do conjunto dos Evangelhos. Relativamente aos Sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas), podemos deduzir do seu próprio texto alguns argumentos indiretos, já que em nenhum momento nos dizem expressamente quem foram os autores humanos. Assim observamos que o primeiro Evangelho tem um tom mais “judaico” que os outros; que o segundo aponta para um ambiente romano e trata de modo singular a figura de São Pedro; e que o terceiro tem o mesmo estilo dos Atos dos Apóstolos e é como a primeira parte de uma obra única em dois volumes.

Todos esses dados, assinalados sumariamente, coincidem e vem reforçar o argumento aludido do testemunho da Tradição cristã. Esta atribui o primeiro Evangelho a São Mateus, que o escreveu para os cristãos palestinos de origem judaica, e na língua destes; o segundo a São Marcos, que o escreveu em Roma e foi discípulo de São Pedro; e o terceiro ao médico de Antioquia e discípulo de São Paulo, São Lucas, que escreveu também o livro dos Atos dos Apóstolos.

Nos primeiros séculos da Igreja era de suma importância assinalar com clareza e firmeza quem tinha escrito os Evangelhos, porque já iam aparecendo alguns livros apócrifos que os hereges empregavam para difundir seus erros. Face à heresia, os apologistas cristãos opunham a verdadeira tradição apostólica e deixavam bem assente que os Evangelhos, que oficialmente se usavam na Igreja, procediam dos próprios Apóstolos – São Mateus e São João - , ou dos seus discípulos diretos, chamados “varões apostólicos” – São Marcos e São Lucas.

Assim, pois a origem apostólica e a autenticidade dos quatro Evangelhos – isto é, que os seus autores são precisamente aqueles a quem se atribuem – mantiveram-se desde os primeiros séculos da Igreja sempre e em todas as partes. Santo Agostinho na sua obra “Contra Fausto” (28,2) expressava assim o argumento principal, a propósito do primeiro Evangelho: “Deveis crer que este livro é de Mateus porque a Igreja conservou este livro desde o tempo em que viveu Mateus, através de uma série ininterrupta de gerações, com uma sucessão sem falha, que chega até aos nossos dias”.

(cfr. Biblia Sagrada anotada pela Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra, trad. Portuguesa, Ed. Teológica Braga, 1994, pg. 57-59)