O Livro de Ester
Como o livro de Judite, o de Ester descreve a história de
uma israelita que, por sua castidade e piedade, se tornou instrumento de
libertação para o povo de Deus.
O rei Assuero deu, certa vez,
grande banquete; por essa ocasião, a rainha Vasti recusou-se a aparecer em
público e foi repudiada (1, 1-22). Em seu lugar, entrou Ester, israelita, prima
órfã de um israelita chamado Mardoqueu, que residia em Susa (Pérsia) e servia
na corte do rei (2,1-20).
Em seguida, Mardoqueu revelou ao
rei a conspiração de dois oficiais contra a vida de Assuero; por isso foi
inscrito nos Anais como benemérito (2,21-23). Fiel, porém, às suas tradições
religiosas, recusava-se a dobrar o joelho diante de Amã, primeiro-ministro de
Assuero (3,1-4). Irritado, Amã obteve do rei um decreto que mandava exterminar
todos os judeus da Pérsia no fim do ano corrente (3,5-15).
Diante do perigo, Mardoqueu pediu
a Ester que intercedesse junto a Deus e ao rei pela salvação de seu povo (4,
1-17). Após ter jejuado e orado, ela e os judeus de Susa, durante três dias,
Ester convidou o rei e Amã para cearem com ela (5,1-5). A rainha, ajudada pela
Providência de Deus, conseguiu do rei novo decreto que concedia aos judeus a faculdade
de se vingarem de seus opressores no dia previsto para o extermínio dos
israelitas; Amã foi enforcado por ordem de Assuero (5, 6-8, 14). Em
conseqüência, os filhos de Israel causaram grande morticínio entre os persas
(8, 15-9, 19). Para comemorar o acontecimento. Mardoqueu mandou instituir a
festa anual de Purim (9, 20-32).
O livro de Ester reproduz traços
de história ornamentados para servir à finalidade religiosa e moral.
De um lado, o autor se refere
explicitamente aos Anais dos reis da Pérsia (2,23; 10, 2); as circunstâncias da
corte e da administração do reino concordam com o que se conhece por outros
escritos; além disso, a festa de Purim,
celebrada pelos judeus, parece atestar um fato histórico. Suposto o fato
histórico, o rei Assuero seria Xerxes I (486-465 a. C.).
De outro lado, chama-nos a
atenção o silêncio dos autores profanos sobre episódios que tão vasta
repercussão teriam tido no reino persa. Já que estes não mencionam nenhuma
rainha da Pérsia chamada Ester, conclui-se que a heroína israelita, assim como
a repudiada Vasti, tenha sido apenas uma das concubinas prediletas de Xerxes I,
que teve sempre como esposa a rainha Amestra.
Notemos também a composição
artificiosa do livro de Ester, obra prima da literatura judaica. As antíteses
perpassam o livro, dando-lhe caráter dramático:
- duas jovens, concubinas do rei: Vasti, pagã; repudiada; Ester, israelita, exaltada;
- dois homens, ministros do rei: Amã, não-judeu, exaltado, depois condenado à morte; Mardoqueu, israelita, desprezado, condenado à morte, mas por fim exaltado.
- dois decretos do rei: um, contra os judeus (3,12-15); outro, em favor dos judeus (8, 9-14);
- dois banquetes oferecidos por Ester, para Amã, significam humilhação (5,9-14); para Mardoqueu, a passagem da morte (5,14) para a glória (6,11; 8,2);
- os judeus, repudiados ao extremo tornavam-se progressivamente estimados ao extremo.
A finalidade do livro é levantar
o ânimo dos judeus que, após o exílio, viveram sempre sobre o domínio
estrangeiro (persas, gregos, egípcios, sírios, romanos). A Providência rege os
acontecimentos e cumpre seus desígnios, mesmo que tudo pareça indicar o contrário;
a chave para entender a tese do livro está em Ester 4,17.
O texto chegou até nós sob 2 formas:
- Texto hebraico, que compreende os nove primeiros capítulos até 10,3. É a única forma que os judeus reconhecem. Nunca refere o nome de Deus;
- O texto grego, que apresenta duas recensões. Contem as partes deuterocanônicas inseridas no texto protocanônico, enquanto outras as colocam em apêndice.
O
livro pode ter sido escrito em hebraico na época dos Macabeus (167-160). Por
volta do ano 100 .C, terá sido traduzido para o grego e enriquecido com os
fragmentos deuterocanônicos.
(Fonte: Escola Mater Ecclesiae, curso bíblico).