Um fato
central e ao mesmo tempo um dos mistérios funcamentias da religião cristã é que
se nos apresenta como tendo origem e fundamento numa revelação histórica. Se
Deus não fosse mistério, não haveria necessidade de revelação alguma. O termo
“revelação” significa literalmente “tirar o véu que oculta alguma coisa”; em
fotografia – “revelar” uns rolos -, em jornalismo – “revelar” algo numa notícia
- , etc. são aplicações hoje vigentes deste termo.
No aspecto
religiosoquer dizer a manifestação que Deus faz aos homens sobre o seu próprio
ser e de outrs verdades necessárias ou convenientes para a salvação. Dito de
outra maneira, a revelação divina é um falar de Deus aos homens (locutio Dei ad homines); quer dizer,
deus sai ao encontro do homem e dá-se a conhecer de duas maneiras: uma natural
e outra sobrenatural.
A primeira
realiza-se através das criaturas; o homem, mediante a sua inteligência, pode
conhecer Deus com certeza a partir das suas criaturas, como se reconhece um
artista através da sua obra. Este é o nosso conhecimento natural de Deus.
A segunda
vem diretamente de Deus: é outro conhecimento que o homem não pode alcançar
pelas suas próprias forças e, por isso, denomina-lo sobrenatural1. Por uma
decisão completamente livre, Deus revela o seu mistério ao homem, quer dizer, o
seu plano de salvação para todos os homens, e realiza esse plano enviando o seu
Filho amado e o Espírito Santo.
Por quê
Deus se revelou? Porque quis e porque nos ama. Com que finalidade? Para se dar
a conhecer de modo gratuito e nos convidar a uma íntima comunhão com Ele,
através de uma relação de amizade. O Deus invisível (cfr. Col. 1,15; Tim 1,17),
na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos (cfr. Ex 33,11; Jo. 15,1415)
e convive com eles (crf. Bar. 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com
Ele2.
A revelação
é inaugurada aqui no tempo pela fé – resposta humana a essa interpretação
divina -, mas é destinada a chegar à sua plenitude na vida para além dos
tempos, no encontro cara a cara homem com Deus. Em suma “revelando-Se a Si
mesmo, Deus quer tornar os homens capazes de Lhe responderem, de O conhecerem e
de O amarem, muito para além de tudo o que seriam capazes por si próprios”3.
1 Cf. Dei Verdum, 6; Catecismo da Igreja Católica, 50
2 Dv,2.
3 Catecismo da Igreja Católica, n.52