Tobias, Judite, Ester
Os livros
de Tobias, Judite e Ester pertencem a um gênero literário próprio: o midraxe ou a hagadá. Esta é uma maneira de propor a história que realça os
aspectos edificantes e moralizantes da mesma, no intuito de promover a formação
espiritual dos leitores. Distinguem-se dois períodos da literatura hagádica bíblica: 1) o período
imediatamente posterior ao exílio (587-538 a.C) no qual os autores sagrados
procuravam em termos tranqüilos a edificação dos fiéis (tal é o caso de Tb, Rt,
Jn, Jó); 2) o período hasmoneu (sec. II – I a.C.), no qual a
luta pela independência nacional alimentava antagonismo aos estrangeiros e
rígido senso religioso ( Jd, Est e partes de Dn).
Os
livros de Tobias, Judite e Ester têm notas comuns:
- Referem episódios não concernentes a todo o povo israelita, mas apenas a uma determinada família (Tb), cidade (Jd) ou judeus residentes na Pérsia (Est);
- Referem episódios não concernentes a todo o povo israelita, mas apenas a uma determinada família (Tb), cidade (Jd) ou judeus residentes na Pérsia (Est);
- As épocas da história universal a que aludem não podem ser identificadas com muita precisão;
- O texto dos três livros passou por uma história obscura, o que suscitou questões de crítica do texto e canonicidade; Tb, Jd e Est 10, 4-16, 24 não constam no canon dos judeus da Palestina; são, por isso, chamados “deuterocanônicos”.
O Livro de Tobias
O texto original de Tobias era
hebraico ou aramaico; e perdeu-se. São Jerônimo (+ 421) fez a tradução para o
latim da Vulgata a partir de uma cópia aramaica. O livro de Tobias contem um
núcleo histórico, ornamentado com objetivo didático e moral.
- A historicidade do livro se depreende das indicações
de reis assírios (Tb 1,1,16.21 s..), das referências geográficas (1,1.14,21;
3,7...), sociais e políticas (1,17; 2,3....), e jurídicas (5,3,14; 7,14).
- O autor desenvolveu com certa liberdade os dados
históricos de que dispunha, pois cedeu a anacronismos. Com efeito, a história
de Tobias se desenvolveu sob Salmanasar e sucessores (se. VIII/VII a.C.), mas
as idéias e práticas religiosas inculcadas pelo livro não se explicariam então,
pois só foram adotadas pelos judeus após o exílio: assim, a entrega de dízimos
aos prosélitos (1,8); e as exortações morais são da literatura sapiencial
posterior ao exílio. Além disso, os capítulos 13 e 14 supõem Nínive em ruínas,
Jerusalém destruída e os judeus no exílio babilônico, circunstâncias impossíveis na época de Tobias. Estes
anacronismos insinuam que o autor, posterior ao exílio (250 -150 a.C), recorreu
a uma história antiga, adaptando-a aos conceitos do seu tempo para que mais
calasse no ânimo dos leitores.
- A finalidade do livro é mostrar a admirável
Providência de Deus para com um homem fiel posto em uma aflição e apresentar
aos leitores um modelo de observância da Lei de Deus. Observem-se as numerosas
exortações à piedade e à prática das boas obras: 1,16-19; 4, 5-19. O opúsculo
de Tobias também é importante pela sua angeologia:
o anjo Rafael aparece aí como guarda, curador (3,25; 8,3) e intercessor (3,16;
12, 12). As notícias referentes ao demônio Asmoneu são tiradas da tradição
popular.