sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O Livro dos Juízes - Estrutura, síntese e composição



No Livro dos Juízes se narra a chegada do povo de Israel à terra de Canaã, as dificuldades com as quais se foram encontrando em seu assentamento em cada zona e a proteção divina que puderam experimentar nas situações difíceis que se apresentaram às diversas tribos. Nesses momentos mais adversos Deus foi suscitando uns líderes carismáticos, os “juízes”, que tinham a missão de salvar o povo.

Estrutura e síntese do livro

Depois de um prólogo no qual se condensam os ensinamentos do livro, sucedem as narrações das façanhas realizadas por diversos juízes. Essas narrações são cada vez mais extensas e, conforme o texto avança, outros relatos vão sendo anexados.

Prólogo (1,1-3,6) Consta de duas partes. Primeiro se fala da chegada das tribos israelitas à terra de Canaã e de seu paulatino assentamento em seus territórios (Jz 1,1-36). Depois se expressa o ensinamento teológico fundamental do livro: Israel permanecerá nessa terra enquanto seja fiel ao Senhor, mas na medida em que se afaste de Deus deixará de contar com o favor divino. O Senhor deu reiteradas mostras de sua fidelidade suscitando juízes que salvem o povo das situações perigosas, mas Israel reincidiu uma e outra vez na infidelidade.

Os relatos de juízes compreendem seis histórias em torno a outros tantos personagens: 1) Otniel, da família de Caleb (3,7-11); Ehud, da tribo de Beijamin(3,12-30); Débora, da tribo de Efraim (4,1-5,32); Gedeon-Yerubaal, da tribo de Manassés (6,1-10,5); Jefté, de Galaad (10,6-12,15) e Sansão, da tribo de Dan (13,1-21,25).

Composição

A redação definitiva do livro dos Juízes foi realizada dentro do processo de composição da “história deuteronomista” da qual forma uma parte importante.

Os relatos exemplares incluídos no livro tomam seu argumento, possivelmente, de dados tradicionais de diversas procedências. No total se fala de doze juízes – um para cada tribo – mas só se narra com certa extensão as façanhas de seis deles. Cada tribo haveria ido recordando os feitos dos heróis pretéritos, transmitindo-os de geração em geração. Em alguns casos, as histórias logo se revestiram de forma literária, como o “Canto de Débora”. Outras memórias foram transcritas posteriormente.

Na época do desterro esses relatos foram agrupados nesse livro para ilustrar o ensinamento teológico fundamental próprio da “história deuteronomista”: a inquebrantável de Deus em contraste com as reiteradas infidelidades de Israel. No entanto, em sua redação se respeitaram os rasgos mais genuínos de cada relato, ainda que em alguns casos se apresentem chocantes para o ensinamento geral que se quer transmitir. Por isso se narram, sem reprovação explícita, fatos ou costumes discordantes, como por exemplo a possibilidade de dar culto a Deus em diversos santuários, e não só em Jerusalém, ou no oferecimento de um sacrifício humano por parte de Jefté.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Livro de Josué - Ensinamentos e À luz do Novo Testamento



Ensinamentos

Deus é fiel e sempre cumpre suas promessas. Assim se faz constar de modo explícito: “De todas as promessas favoráveis que o Senhor havia proferido para a casa de Israel nenhuma falhou, todas se cumpriram” (Jo 21,45).

A tradição bíblica apresentar com singular realce os protagonistas dos grandes momentos da história, eleitos por Deus para realizar seu grande projeto de salvação. Josué é um desses protagonistas, instrumento de Deus para introduzir o povo na terra prometida. Assim como durante a peregrinação pelo deserto Moisés havia sido o mediador entre Deus e o povo,  agora Josué desempenha essa tarefa. Porém, o protagonista principal é o povo. Na narração da passagem do Jordão, e das primeiras conquistas da terra prometida, o povo de Deus é apresentado como uma nação santa, em disposição litúrgica, presidida pela Arca da Aliança, símbolo da presença de Deus entre os seus. Deste modo, fica claro que a conquista da terra é um dom de Deus concedido a seu povo por meio de seu servo Josué, e não por seus dotes guerreiros nem pelo potencial ofensivo de suas armas. O próprio Josué, após concluída a conquista da terra prometida, será o mediador da renovação da Aliança em uma cerimônia realizada em Siquém, na qual o povo se compromete a ser fiel ao Senhor e a cumprir os seus preceitos.

Convém também ressaltar a força com que o texto sagrado insiste uma e outra vez na unidade do povo. Ainda que algumas tribos hajam recebido sua herança antes de passar ao Jordão, para entrar na terra prometida, não abandonaram seus irmãos na tomada de posse de Canaã (Jos 1, 10-16; 22,1-8). Na narração se sublinha que todo o povo unido, sob a liderança de Josué, realizou a conquista. Por sua vez, o povo unido deve reconhecer que há um só Deus, o Senhor, que lhes prestou auxílio, o único ao qual devem servir.

À luz do Novo Testamento

A figura de Josué, instrumento de Deus para introduzir o povo na terra prometida, representa uma verdadeira antecipação profética de Jesus Cristo. Seu próprio nome, Josué, é idêntico ao de Jesus. Ambos significam “o Senhor salva” (em hebreu, Yehosú’a). Josué proporcionou a seu povo a salvação ao introduzi-lo na terra, mas também salvou a pessoas que não formavam parte dele, como Rajab e sua família (Jos 6, 22-25), que haviam secundado os planos de Deus e manifestado assim sua fé com obras. Também Jesus, que veio trazer a salvação a Israel, a faz extensiva a todos os homens e mulheres de todas as raças da terra que secundam os planos de Deus.

O paralelo entre Josué e Jesus foi desenvolvido por alguns Padres da Igreja. São Justino explicou que assim como Josué sucedeu a Moisés e introduziu ao povo na terra prometida, Jesus substituiu a Moisés, e seu Evangelho à Lei mosaica, e conduziu ao novo povo de Deus à salvação. Origenes estabeleceu um paralelo espiritual entre Josué, que conduziu a Israel à vitória abatendo reinos, cidades e inimigos, e Cristo, que guia a alma e lhe proporciona a vitória sobre os vícios e paixões.

(cfr. Biblia Sagrada anotada pela Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra).