No Livro dos Juízes se narra a chegada do povo de Israel à
terra de Canaã, as dificuldades com as quais se foram encontrando em seu
assentamento em cada zona e a proteção divina que puderam experimentar nas
situações difíceis que se apresentaram às diversas tribos. Nesses momentos mais
adversos Deus foi suscitando uns líderes carismáticos, os “juízes”, que tinham
a missão de salvar o povo.
Estrutura e síntese do livro
Depois de um prólogo no qual se condensam os ensinamentos do
livro, sucedem as narrações das façanhas realizadas por diversos juízes. Essas
narrações são cada vez mais extensas e, conforme o texto avança, outros relatos
vão sendo anexados.
Prólogo (1,1-3,6) Consta de duas partes. Primeiro se fala da
chegada das tribos israelitas à terra de Canaã e de seu paulatino assentamento
em seus territórios (Jz 1,1-36). Depois se expressa o ensinamento teológico
fundamental do livro: Israel permanecerá nessa terra enquanto seja fiel ao
Senhor, mas na medida em que se afaste de Deus deixará de contar com o favor
divino. O Senhor deu reiteradas mostras de sua fidelidade suscitando juízes que
salvem o povo das situações perigosas, mas Israel reincidiu uma e outra vez na
infidelidade.
Os relatos de juízes compreendem seis histórias em torno a
outros tantos personagens: 1) Otniel, da família de Caleb (3,7-11); Ehud, da
tribo de Beijamin(3,12-30); Débora, da tribo de Efraim (4,1-5,32);
Gedeon-Yerubaal, da tribo de Manassés (6,1-10,5); Jefté, de Galaad (10,6-12,15)
e Sansão, da tribo de Dan (13,1-21,25).
Composição
A redação definitiva do livro dos Juízes foi realizada
dentro do processo de composição da “história deuteronomista” da qual forma uma
parte importante.
Os relatos exemplares incluídos no livro tomam seu
argumento, possivelmente, de dados tradicionais de diversas procedências. No
total se fala de doze juízes – um para cada tribo – mas só se narra com certa
extensão as façanhas de seis deles. Cada tribo haveria ido recordando os feitos
dos heróis pretéritos, transmitindo-os de geração em geração. Em alguns casos,
as histórias logo se revestiram de forma literária, como o “Canto de Débora”.
Outras memórias foram transcritas posteriormente.
Na época do desterro esses relatos foram agrupados nesse
livro para ilustrar o ensinamento teológico fundamental próprio da “história
deuteronomista”: a inquebrantável de Deus em contraste com as reiteradas
infidelidades de Israel. No entanto, em sua redação se respeitaram os rasgos
mais genuínos de cada relato, ainda que em alguns casos se apresentem chocantes
para o ensinamento geral que se quer transmitir. Por isso se narram, sem
reprovação explícita, fatos ou costumes discordantes, como por exemplo a
possibilidade de dar culto a Deus em diversos santuários, e não só em
Jerusalém, ou no oferecimento de um sacrifício humano por parte de Jefté.