sábado, 2 de novembro de 2013

Os 2 livros de Samuel - Estrutura e Síntese de Conteúdo



Os livros de Samuel estão colocados na Bíblia hebreia em seguida de Josué e Juízes e antes dos 2 livros dos Reis, formando todos eles um bloco de “profetas anteriores” para distingui-los dos “profetas posteriores” (Isaías, Jeremias, Ezequiel e os 12 profetas menores). A versão  grega dos Setenta, seguida pela Vulgata e por outras versões antigas, intercala o livro de Rute entre Juízes e Samuel, e reúne os 2 livros de Samuel e Reis sob a denominação 1 e 2 de Reis (= 1 e 2 de Samuel) e 3 e 4 dos Reis (= 1e 2 de Reis), que têm características que os distinguem dos subsequentes.

Os Livros 1 e 2 de Samuel apresentam a monarquia sucessória a partir de Davi como sistema de governo querido por Deus para seu povo. Mostram como modelo a este rei que, apesar de suas limitações pessoais e dos seus delitos, foi sempre favorecido pelo Senhor e se manteve fiel a seus desígnios, humilhando-se e pedindo perdão de seus pecados. A história contida nos livros de Samuel abarca uma etapa transcendental da na vida de Israel, que se estende desde o nascimento de Samuel, o último dos juízes. Até o final da vida de Davi. Trata-se do período em que as doze tribos passaram de um regime de liderança ocasional a constituir um estado organizado com uma monarquia hereditária e única segundo o modelo dos reinos vizinhos.

Ainda que estes Livros contenham elementos poéticos colocados estrategicamente ao princípio, como o cântico de Ana (1 Sm 2, 1-10) e, ao final, o salmo de Davi (2 Sm 22,2-51), constituem um relato continuado, no qual se evidencia como Deus atua entre os seus, como elege a seus representantes – a Samuel primeiro e depois aos reis – como rechaça a Saul por sua infidelidade e favorece a Davi, seu servo fiel, e como mantém sua aliança apesar dos pecados dos homens.

Estrutura e Síntese do Conteúdo

Os protagonistas da trama narrativa são Samuel, Saul e Davi. O conteúdo de 1 e 2 de Samuel se pode dividir de acordo com os personagens que vão sendo apresentados:

I-               História de Samuel. A Arca (1 Sm 1,1-7, 17). Há duas apresentações de Samuel, uma como profeta (1 Sm 1,1-4.1) e outra com características análogas às dos juízes (1 Sm 7,2-17). Separando as duas seções há o relato de episódios em torno à Arca da Aliança, e a primeira vitória sobre os filisteus (1 Sm 4, 1-7, 1).. 

II-             Samuel e Saul (1 Sm 8,1-15,35). Narram-se alguns acontecimentos. Em um relato, diz-se que Samuel ungiu espontaneamente a Saul como rei, após um encontro fortuito quando este buscava asnas de seu pai que haviam se perdido (1 Sm 9,1-10,16). Em outro, Samuel foi ungido a pedido do povo (1 Sm 8,1-23; 10, 17-27; 12, 1-25). Saul conta ao princípio com a ajuda de Deus e do povo, mas ao final é rechaçado. Como razões para esse rechaço se aduzem duas razões: não haver esperado Samuel para realiza um sacrifício (1 Sm 13, 7-15) e haver poupado a vida do rei dos amalecitas, reservando-se parte do botim de guerra.

III-        Saul e Davi (1 Sm 16, 1-2 Sm 1, 27).Há também duplicações, como na seção anterior. Primeiro se diz que os personagens se conhecerem quando Davi entrou como músico a serviço do rei (1 Sm 16, 14-23) e mais adiante que apresentaram Davi ao rei depois de sua vitória sobre Golias (1 Sm 17, 55-58). Saul atenta duas vezes contra a vida de Davi (1 Sm 18, 10-11; 19, 10). Duas vezes se constata a popularidade de Davi (1 Sm 18,12-16.28-30) e em duas ocasiões se promete a ele casar-se com a filha de Saul (1 Sm 18, 17-19.21-27). Davi é traído duas vezes (1 Sm 23,1-13.19-28), e duas vezes perdoa a vida de Saul (1 Sm 24, 1-23; 26, 1-25). Por último, em duas oportunidades se refugia na casa de um príncipe filisteu de Gat (1 Sm 21,11-16; 27, 2-12).

IV-          Davi, Rei (2 Sm 2,1-8, 18). Nesta seção percebe-se uma mudança de estilo em relação às anteriores. Aqui não há repetições.Narram-se  de forma mais linear a consagração de Davi como rei de Judá em Hebron, e as diversas lutas e intrigas que se produzem até que é aceito também como rei por todas as tribos de Israel (2 Sm 5, 1-5).

V-              Sucessão de Davi (2 Sm 9, 1-20, 26). Nesta seção também não há repetições. No marco da guerra contra os amalecitas, narra-se  o adultério e o crime de Davi, como antecedente do nascimento do futuro sucessor, Salomão. Mas antes de que esse suba ao trono, produzem-se dentro da família de Davi muitas e dolorosas intrigas:  Amnón viola a sua irmã Tamar e é assassinado por Absalón; posteriormente este se revolta contra seu pai, que foge de Jerusalém, e termina assassinado por Joab (2 Sm 15,1-18, 32). Davi regressa de novo a Jerusalém e consegue estabelecer-se definitivamente, após derrotar alguns insidiosos (2 Sm 19,1-20, 26).

VI-       Epílogo (2 Sm 21, 1-24,25). O livro termina com um apêndice que recolhe um relato de fome e de peste que se apresenta para justificar a morte dos descendentes de Saul. Segue uma nova menção das vitórias contra os filisteus (2 Sm 21,1-22) e culmina com um salmo de Davi (2 Sm 22,1-51). O último capítulo relata o pecado do censo como circunstância para sublinhar  que Davi, arrependido, decidiu edificar um altar na era de Arauná, o mesmo local onde seria construído o futuro Templo (2 Sm 24, 1-25).